Por
CARLOS AUGUSTO GALVÃO
Psiquiatra
São Paulo - SP
carlosafgalvao@terra.com.br
MEDO
Vejo de minha janela o mundo pegando fogo. O povo mais paciente do mundo para com seu estado parece que já não suporta mais tanta injustiça e perdeu o sentido da esperança de uma nação verdadeiramente republicana. Talvez estejamos vendo a insipiente revolta individual, que multiplicado por milhões e milhões transforma-se num fogaréu no inconsciente coletivo, de dificílimo controle; aí a gênese das revoluções.
Houveram avisos prévios há meses, que provocaram apenas maquiagens sofistas, que já não mais enganam quem quer que seja, a começar pelas classes que mais sofrem, os pobres e miseráveis, enfim a classe média, pois o governo falou a todos os que ganham mais de equivalentes 800 dólares por mês: -”Alegrem-se... agora vocês são classe média, e tratem de pagar imposto de renda”. Paga toda a sociedade, como manda a cidadania, mas como nada recebe, parece que está entrando de
sola no estado.
O Governo ameaça, vocifera que jogará suas forças contra os que se rebelarem. Rosna, late... mas começa a perceber que por aí só jogará gasolina no incêndio. Há décadas, na América Central, governos tentaram resistir à revolta popular pela força e caíram. Eram ditaduras, e a oposição revoltada mais organizada, pois sabia contra o que lutava. Não é o caso do Brasil.
Temos um estado incompetente, sanguinário e corrupto até o âmago, eleitoralmente democrático, mas cruel como república. Todos os que o dirigiram, não só não conseguiram controlá-lo em suas sujeiras, como locupletaram depois que descobriram-se incapazes; atualmente a coisa está visível. A maioria dos políticos perdeu completamente a compostura e enriquece misteriosamente da noite pro dia, às escancaras, à vista de todos. Isto acontecendo numa época em que mudou apenas a capacidade comunicativa dos cidadãos, em relação às décadas passadas, torna-se preocupante.
A alternativa revolucionária que o povo tinha e pôs no poder azedou irremediavelmente; a desilusão torna-se tão densa, quase literalmente visível, e gera o calor da revolta ardente que vejo agora pela televisão.
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