DESNUDAMENTO
Pensar teu nome é função de descobrir sentenças,
provar a saúde da palavra,
beber a música do verbo.
Mescla de células,
tuas e minhas fontes,
jorram cristais e delícias.
Teus segredos,
a letra tateando o músculo,
o pulso disparado ao margear profundezas,
o ar que falta e sobra e inunda,
asfixia e erupção.
Pausa.
Desconforto.
Qual...
Já não é mais sem tempo.
Tudo é oceano e noite.
Tudo saber, querer, ser.
Teu é o nome da rosa
do mar, de criaturas bizarras
da falta de gravidade,
da paz, que me foge pelos minutos que restam,
da soma das tuas esquinas.
Meu é o dom do desequilíbrio,
dançar no fio,
calar o cio,
nesse longo ofício de remendar esperas.
Derme fosforescente,
cores de acordar passarinho,
formas de acalentar bordados
e um perfume de estar.
A curva do rio nos pertence,
como a palma da mão que se dá em prece.
Aqui e agora meu olhar passeia
nas linhas todas do teu rosto,
saltitando entre cílios,
a se aconchegar no ninho dos teus lábios,
cálidos templos erigidos na madrugada.
Meus poucos sonhos se perderam
em opacos horizontes de procuras.
E esse teu gosto de nunca
se afiliou na saliva do encontro.
Os dados rolam,
o tempo estica os dedos.
Tão nós e tão não.
Tão pouco e tão tudo.
Areia e verdade.
Desnudo.
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