05 setembro 2014

Envelhecendo

Por 
DELASNIEVE DASPET
Poeta, Advogada e Ativista Cultural e Social
Campo Grande - MS
daspet@uol.com.br








ENVELHECENDO

Que botox, que cirurgia, que nada! Cheguei aos 62 anos completamente com 62 anos... Ninguém me dá um dia a menos ou a mais. E que bom chegar aos 62 anos com a cabeça e o corpo de 62 anos. Eu não malho. Não tenho saco para isso. Não ando, sou preguiçosa... Mas adoro dançar – já quis fazer várias vezes um curso de dança... mas, dançar sozinha, ou com aqueles meninos... não me dá nenhum tesão, então, fico aqui – eu e os  meus livros, minhas canetas, computador, agenda, e, meu cérebro. Gosto de exercitá-lo e faço isso em todos os momentos. Crio, recrio, fantasio, valseio, falseio, pazeio... Não bebo, não fumo, até comer – não abuso. Não me preocupo, nunca me preocupei com qualquer glamour... Mas adoro pensar que tenho um pote de ouro no final do arco-íris: os meus sonhos, os meus ideais, as minhas conquistas.

Nestes tempos, ridículos, do politicamente correto, me pego com saudades do passado quando podíamos brincar sem acusações de intolerâncias, de racismo, e de tantos outros “ismos” e modismos. Eu, por exemplo, acho que todas as diferenças podem conviver em perfeita harmonia, e, que o direito de um começa onde termina o do outro. Qualquer um tem de conquistar o seu espaço respeitando o dos outros, isto é, não se pode obrigar ninguém a aceitar nada... pode-se esclarecer as coisas, a aceitação ou não vai de cada um. Assim é, e, assim deveria ser, sempre.

Filhos, tenho dois. Um me paparica todos os dias, o outro, ocasionalmente. Mas não posso mudar os fatos –  cada um é como é. Os amigos, conto-os e os reconto e alguns podem ser chamados como tais  – mas com tantos conhecidos – como são poucos, os amigos! Mesmo assim, eu continuo a chamá-los para que não se olvidem de que estamos juntos na caminhada.

Gosto de movimento... Do vento que balança as folhas e faz tilintar os sinos da varanda. Gosto de gatos – quando eles  ouvem a minha voz  –  me rodeiam com seus miados doces e interesseiros... eu, também, sou interesseira, adoro receber seus carinhos e acarinhá-los.

E, o melhor de tudo, é que sou soberana nas minhas atitudes e dos meus atos, ainda mais quando nunca me preocupei com o que podiam dizer ou pensar de mim. Já dei  sonoras bananas sem me importar a quem... Tenho orgulho de dizer que piorei, sempre falei palavrões... com a idade, como bom vinho, melhorei e aperfeiçoei...  o vocabulário em guarani, espanhol, francês...

Não sou, totalmente, tola... percebo com clareza quando me usam... às vezes me deixo trampolim por meu interesse. E, quando oportuno, deixo claro, para que não pairem dúvidas, sobre o meu realizar. Porém, nunca, nunca, nunca, deixo porém o “pé na minha onça” e tirar foto... Se fui eu quem a abateu, digo em alto e bom som... Não divido meu chapéu.

Que o tempo continue passando... Que eu possa contar ao espelho a história de cada ruga, dos cabelos brancos, das mãos envelhecidas, da gordura que acumulei, do olhar faceiro; que eu tenha a ventura de contar os dias vividos em tão boa companhia e parceria, eu tive a sorte de achar o parceiro perfeito – que sempre respeitou meus espaços.

Que eu me complete neste ir e vir, como ondas do mar, que vai e vem e sempre morre na praia, como lágrimas de espuma que a areia branca se encarrega de guardar.  Que seja assim, no último alento, quando misturada ao vermelho de minha terra, possa voar, voar,  voar... e, integrar-me ao verde de nossos cerrados, à pureza de nossos rios, ao cantar dos pássaros e, quem sabe, camuflada como um urutau, cantar em noites de lua cheia as saudades que deixei na terra.


______________________________
BAIXE A REVISTA COMPLETA EM PDF
_________________________________

5 comentários:

Unknown disse...

Muito Lindo...os anos passam para todos,mas o bom disso é ter a certeza que vivemos tudo o que a vida nos ofereceu de bom e ruim,que vivemos nossas frustrações,choramos nossas lágrimas,rimos de nossas bobices,e melhor de tudo isso que estamos vivos e sempre atentos ao que está por vir.

Unknown disse...

Nossa.....adorei e tenho muita coisa de tudo isso.
Parabéns, e meu grande abraço !
Bjss.

Unknown disse...

MARAVILHOSO TEXTO! Desprendido, autóctone , irreverente, sem formatação estereotipada do meio, introspectivo. Amei. Um aprendizado, texto digno dum prêmio de literatura.

Unknown disse...

uma prosa poética...

Gaivotadourada22 disse...

Adorei!!! Aplausos!!!!

É a Poesia que se plasmou num Poema, o qual se disfarçou em Prosa!!!

QUE PENA! O MUNDO DÁ VOLTAS

Por: ALESSANDRA LELES ROCHA Professora, bióloga e escritora Uberlândia - MG Algum dia você já se perguntou do que depende a s...