20 novembro 2014

Qual a medida do tempo?

Por
HELIO BEGLIOMINI
Médico e escritor
São Paulo - SP
heomini.ops@terra.com.br








QUAL A MEDIDA DO TEMPO?

Elaborar calendários desde priscas eras foi, ao longo da história da civilização, um forte atributo da inteligência do homo sapiens. O homem, único ser vivente que consegue abstrair sobre seu passado, presente e futuro, sempre tencionou situar-se no espaço e no tempo, dividindo-o e subdividindo-o de acordo com as observações que fazia do inter-relacionamento entre a posição da terra com o ciclo lunar ou solar. 

Na pré-história, desde tempos imemoriais, os homens observavam os movimentos dos astros para poder fixar um calendário que lhes permitisse plantar, colher e planejar o manejo dos rebanhos. Os povos do Extremo Oriente, os hebreus e os árabes desenvolveram calendários lunares, enquanto que os povos da Índia e do Oriente Médio desenvolveram calendários solares.

Entre os calendários que mais sobressaíram na história da humanidade, que foram apanágio de povos e civilizações, citam-se o egípcio, babilônico, judaico, muçulmano, maia-asteca, hindu, grego, romano e cristão-gregoriano.

Se na criação de calendários ao largo dos séculos e milênios teve ingerência primordialmente astronômica, a divisão do tempo em eras sofreu acentuada influência política e, sobretudo religiosa.

Confúcio

Atualmente, estima-se que cerca de 40 diferentes calendários sejam usados no mundo, sem contar os que se perderam ao longo da história. Por questões administrativas, a maioria dos países usa como padrão oficial o calendário cristão-gregoriano, que tem como início o nascimento de Jesus Cristo. Entretanto, outros sistemas são utilizados simultaneamente, seja para fins religiosos, festivos, seja para unir os povos dispersos pelo mundo.

No ano 2000 da era cristã, comemorava-se o ano 6236 do calendário egípcio, o primeiro a ser construído; o ano 5119 do ciclo maia; o ano 2749 do antigo calendário babilônio; o ano 1716 para o calendário copta e o ano 1378 para o calendário persa.

O profeta Maomé, numa pintura turca da Idade Média

A era judaica tem como ano 1 aquele que corresponderia ao da criação do universo, segundo o livro do Gênesis, no Antigo Testamento. O ano judaico inicia-se no dia 27 de setembro e termina em 15 de setembro do calendário gregoriano. O ano 1 da era judaica corresponde a 3761 anos antes de Cristo. Assim, em 27 de setembro de 2004, os judeus iniciaram o ano 5764. Essa diferença entre o calendário judaico e o gregoriano-cristão deve-se ao fato de o ano judaico ser lunar e compreender, ao todo, 354 dias e meio, ocasionando uma diferença de 11 dias a menos do que o gregoriano, que é regido pelo ciclo solar.

Jesus Cristo - desenho estilizado

O calendário chinês se baseia no ano lunar e tem 354 dias.  Celebrou a entrada no ano 4701 no dia 22 de janeiro de 2005 do calendário cristão-gregoriano. Já para os confucionistas, seguidores de Confúcio     (551 a.C. – 479 a.C.), em 2004 estavam no ano 2551.

A era romana tem como primeiro ano, o da fundação de Roma por Rômulo, que corresponde ao ano     753 a.C e termina em 476 d.C. com a deposição de Rômulo, marcando o início da Idade Média.

Johannes Kepler

A era muçulmana tem como marco zero a Hégira – a fuga de Maomé (570-632), fundador do islamismo,  de Meca para Medina – ocorrida em 16 de julho de 622 do calendário cristão. O ano islâmico tem 354 dias, pois se baseia no ciclo lunar e os muçulmanos, em 2004, estavam no ano 1425 da Hégira.

Jesus Cristo, pela repercussão de sua vida e obra, marcou indelevelmente a história do mundo. Esse conceito não foi estabelecido de imediato, mas se deu parcimoniosamente ao longo do tempo.

No século VI da era cristã, o monge Dionísio propôs que o tempo fosse contado a partir da anunciação a Maria, que ela seria a mãe de Cristo. Cerca de oitenta anos após, o papa Bonifácio IV não somente ratificou essa medida, mas a tornou obrigatória para os cristãos e, através dela, Cristo se tornou o centro da história, sobremodo do ocidente, dividindo-a em duas grandes porções: antes (a.C.) e depois (d.C) do seu nascimento. Entretanto, Dionísio não conhecia o número zero e, portanto, foi desconsiderado tanto no nascimento de Cristo, como também naqueles anos em que terminariam em dezena, centena e milhar.

Papa Gregório XIII

Cerca de mil anos após Dionísio, o astrônomo Kepler (1571-1630) descobriu que houvera equívoco na contagem da anunciação, uma vez que fora antecipada por uns cinco ou seis anos, lapso esse que persiste até hoje. Assim, a contagem correta do ano atual deveria ser de cinco ou seis anos a mais. 

Na época de Jesus Cristo, o calendário em voga era o juliano, uma vez que fora adotado pelo imperador Júlio César IV, no século I a.C. Esse calendário tinha acumulado uma diferença de dez dias em relação ao ano solar. Por conseguinte, havia a cada ano, uma falta de 11 minutos e 12 segundos para corresponder precisamente ao movimento da terra em torno do sol, ocasionando defasagem de 1 dia em 128 anos.

Santos Dumont

O concurso de matemáticos, astrônomos, eclesiásticos e cientistas deram bases à correção dessa diferença, sendo promulgada a correção do calendário juliano pelo papa Gregório XIII (1502-1585) em 1582, e doravante alcunhado como calendário gregoriano. No seu decreto, 11 dias desapareceram da história. Assim, os europeus dormiram em 4 de outubro e acordaram no dia seguinte como sendo o dia 15 do mesmo mês.        
                                                                                                   
Os países católicos o adotaram de imediato. Contudo nem todos ficaram satisfeitos. Os protestantes alemães achavam que a nova marcação era obra do diabo. Assim, sua implantação noutras nações foi paulatina, como por exemplo, na Dinamarca em 1652; Holanda (1699); Inglaterra (1752); Suíça (1753); Japão (1873); China (1911) e Rússia (1923).

O tempo não foi somente dividido em anos, meses e dias, mas também em suas frações, através da invenção do relógio que surgiu em 1542. No início ele marcava apenas as horas. O ponteiro de minutos surgiu somente 100 anos depois e a ideia de se colocar o relógio no pulso foi do brasileiro Santos Dumont (1873-1932).

Isaac Newton

Seria o tempo estanque? Até o início do século 20, tinha-se em mente que o tempo era absoluto e passava de maneira igual tanto para os terráqueos quanto para um eventual extraterrestre numa galáxia distante. Era o que a física defendia, de acordo com os princípios formulados pelo inglês Isaac Newton (1642-1727).

Entretanto, em 1905, o físico Albert Einstein (1879-1955) derrubou essa concepção ao expor a sua Teoria Espacial da Relatividade. Assim, ele demonstrou que o tempo é relativo, podendo passar mais rápido para uns e mais devagar para outros. Para quem está andando, por exemplo, as horas vão ser mais vagarosas do que para alguém que esteja parado. Entretanto, como as velocidades com que se movimenta no dia a dia são pequenas, a diferença na passagem do tempo é ínfima e, por isso imperceptível. Por sua vez se alguém passasse um ano dentro de uma espaçonave que se deslocasse a 1,07 bilhão de km/h e depois retornasse à Terra, seus concidadãos que ficassem por aqui estariam dez anos mais velhos!

Albert Einstein

Como o tripulante estaria praticamente parado em relação ao movimento da nave, o tempo lhe passaria 10 vezes mais rápido, de acordo com seu ponto de vista. Em contrapartida, para os terráqueos, foi o tripulante quem teve a experiência de sentir o tempo passar mais devagar.

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do livro: MATÉRIA PRIMA - Helio Begliomini - Expressão & Arte - 2014 
ISBN 978-85-7935-082-5
Contato e aquisições: heomini.ops@terra.com.br
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