29 dezembro 2014

Às margens do Romanée-Conti eu sentei e chupei uvas. Uma breve história de um dia na Borgonha

Por 
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA
Engenheiro     
Santo André - SP
carlos@sabbahi.com.br








Às margens do Romanée-Conti eu sentei e chupei uvas 
Uma breve história de um dia na Borgonha

Salut, mes amis!

A cada vez que eu conto essa história, cada vez mais ela me parece aquelas histórias de realismo fantástico, tal a sensação de que vivi um sonho. Na nossa terceira viagem à França, finalmente tivemos a oportunidade de conhecer aquela que talvez seja a mais emblemática região vinícola do mundo: a Borgonha.

Durante um dia da nossa estadia em Beaune, a “capital” dos vinhedos borgonheses, fizemos um tour pelos vinhedos com a agência de uma guia brasileira, que vivia ali há oito anos e que eu havia conhecido em uma feira de vinhos aqui em São Paulo. Este passeio é realmente fantástico para um amante de vinhos.


Como no dia anterior, quando viemos de Dijon para Beaune, já tínhamos passado pelos vilarejos mais ao norte da Côte d’Or, a encosta que é o “coração” da Borgonha - ali se encontram todos os vinhedos Grand Cru da região - decidimos iniciar nossa jornada pela colina de Aloxe-Corton. Ali a guia nos explicou o motivo peculiar da colina conter o único vinhedo Grand Cru de vinho branco da Côte de Nuits: o imperador Carlos Magno, ao “conquistar” a Borgonha, procurou o melhor terroir para fornecer vinhos à sua corte, encontrando aquela colina sem igual, onde a neve era derretida primeiramente pelos incipientes raios de sol do início da primavera. Como nesta colina só se cultivava pinot noir, ele ordenou que se arrancassem umas vinhas e ali se plantasse chardonnay para a produção de vinho branco, pois o tinto lhe manchava a vasta barba branca. Sua esposa reclamava da sua aparência desleixada quando ele bebia vinho tinto...




Depois visitamos o Château du Clos Vougeot, antiga abadia dos monges cistercienses, pioneiros vinicultores que realizaram o trabalho hercúleo de classificar, separar e cultivar os vinhedos e ali produzir ótimos vinhos já nos idos do século XII. Em seguida, fomos conhecer Vosne-Romanée, o vilarejo detentor dos mais conhecidos vinhedos da Borgonha, a maior quantidade de Grands Crus por hectare. Passamos pelas discretas (!) instalações do DRC, o Domaine de la Romanée Conti - talvez o produtor mais prestigiado do mundo - e de seu proprietário, Monsieur Albert de Villaine. Fomos conhecer os vinhedos, localizados às margens de uma antiga estrada romana, “la Romanée”: o “clos”, ou vinhedo murado de la Romanée-Conti, contemporâneo à presença dos romanos na região; os vinhedos de Romanée Saint-Vivant, bem nos fundos das casas do vilarejo, la Tâche, la Grande Rue...


Atravessando a rua à frente de la Romanée-Conti, de Romanée Saint-Vivant pudemos roubar uns bagos do pé, e foi o lugar onde primeiro eu experimentei uma uva vinífera, sendo surpreendido pela doçura extrema da pinot noir; no final de agosto e com o tempo quente e seco daquele ano, as uvas já se encontravam perto do estado ótimo de maturação, inclusive alguns produtores já faziam a colheita. Sua casca é negra e o bago é bem branquinho, o que justifica a cor delicada e a dificuldade de se obter esta cor nos vinhos de pinot noir.

Foi mesmo uma jornada inesquecível e tenho muitas outras histórias pra contar, mas vou deixar um pouco para as próximas edições...

Au revoir! Santé!


DICA DO MÊS

Estamos no verão, época de comidas e vinhos leves, muito calor, sol, praia, piscina... Então, não há nada como um vinhozinho refrescante, leve, geladinho, para o aperitivo, ou para acompanhar aquele peixinho e a salada.

Temos uma grande e qualificada variedade de espumantes nacionais, geralmente à base de chardonnay, riesling itálico e pinot noir. Nossos “prosecco” também atingem um nível de qualidade muito bom e temos ainda os espumantes moscatéis, mais leves e docinhos, que vão bem sozinhos, com sobremesa, frutas e panetone.

Ainda entre os espumantes, quem está disposto a gastar um pouco mais pode partir para os moscatos d’Asti e franciacortas italianos, as cavas espanholas, os crémants ou champagne franceses. Já experimentei bons crémants da Borgonha ou da Alsácia que rivalizam em qualidade com bons champagnes, por um preço bem melhor...

Quanto aos vinhos tranquilos, temos no Brasil algumas boas opções de chardonnay leves, sem madeira, alguns rieslings, sauvignons e viogniers. No Chile encontramos ótimos sauvignons, bem como da Nova Zelândia, também com bons preços. Na França temos ótimos brancos leves no vale do Loire (Muscadet, Sancerre, Pouilly Fumé e Vouvray, este um pouco mais adocicado), na Alsácia, na Borgonha (Chablis). E da Itália nos chegam boas opções desde os mais simples Soave, ótimos pinot griggio e vermentinos. Da península ibérica, temos os aromáticos vinhos de alvarinho, que caem tão bem para acompanhar pratos leves de peixe. E a Alemanha, que produz inigualáveis rieslings principalmente no vale do Reno.

Isso sem falar dos rosés, com exemplares nacionais de ótima relação preço/qualidade - do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina - além de outras opções como os levíssimos e aromáticos provençais, rosés do vale do Loire (um pouco mais suaves), rosados espanhóis de Navarra, entre diversas outras alternativas.

Qualquer um desses vinhos é uma ótima opção para dias de calor, ao lado de um aperitivo ou um prato leve; sem excessos a diversão estará garantida!

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