Cada
minuto a mais, um a menos …
Por Alessandra Leles
Rocha
Nem precisava, mas alguém decidiu dar uma forcinha a mais aos
ponteiros do relógio e fazê-lo veloz como nunca. Uma hora a menos aos pobres
mortais e o Horário de Verão brasileiro está de volta.
Determinadas decisões ainda conseguem me surpreender e esta, por
exemplo, é uma delas. Afinal de contas, nem parece que o Brasil é uma
personagem importante na trama das discussões ambientais pelo mundo. Sim, o
Horário de Verão tem tudo a ver com Meio Ambiente e Sustentabilidade;
sobretudo, em tempos de mudanças climáticas profundas.
Ora, adiantar os relógios em uma hora impacta sobremaneira à
questão energética. A crise hídrica que tem assolado o país, em razão de longos
períodos de estiagem é de conhecimento público. Milhares de cidades viram-se
obrigadas a racionar a água em razão dos baixos volumes nos veios de
abastecimento. E se falta água, como produzir energia hidroelétrica, não é
mesmo?
E foi assim, em meio às intempéries do clima, que o governo
brasileiro lançou mão do recurso das termoelétricas, cujo custo operacional é
elevadíssimo. Resultado: coube a cada brasileiro arcar com o ônus dessa
fatura. Vale lembrar que se houve o impacto da Natureza, por outro lado houve o
impacto humano e administrativo nessa história.
Humano, porque não se vê nenhum tipo de conscientização ou
educação ambiental junto à população, no intuito de economizar tanto a água
quanto o consumo da energia elétrica. Os desmatamentos se agigantam e
prejudicam a permanência das nascentes hídricas. Quando não são as motosserras,
é o fogo quem irá consumir rapidamente a cobertura vegetal e comprometer o
equilíbrio hidrológico nacional. Outras vezes é a contaminação dos lençóis
freáticos por todo tipo de efluentes e dejetos que retira o direito das águas
sobreviverem limpas e em quantidade satisfatória.
Enfim… sem contar na
proliferação de bens de consumo movidos pela energia elétrica, os quais
conquistaram mais e mais brasileiros nas últimas duas décadas. Mas, só agora,
com o ‘bicho pegando’, é que o brasileiro (nem todos diga-se de passagem) teve
que conter os excessos de desperdício caso não quisesse tomar o chamado ‘banho
de gato’.
Mas, se as coisas não tivessem atingido os extremos continuaríamos
a não nos deparar com nenhum trabalho de transformação na consciência cidadã
brasileira; nem tampouco, vimos àqueles que criticaram violenta e
exaustivamente o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, agir para
a modernização do sistema elétrico nacional e não permitir novos episódios de
racionamento de energia. Ao contrário, as críticas inflamadas não se
transformaram em nada, ou melhor, se transformaram em campanhas de incentivo ao
consumo cada vez maior de bens movidos a energia elétrica e em sucessivos
grandes episódios de apagões elétricos Brasil afora, enquanto as tarifas
tornaram-se cada vez mais exorbitantes. Pois é, faltou planejamento, vontade,
empenho,… para não dizer vergonha.
Nem chegamos ao verão e as temperaturas extrapolam o suportável. O
risco do desabastecimento de água paira sobre nossas cabeças como uma espada
pontiaguda; assim como, da rede de usinas hidroelétricas também. E a tragédia
se completa pelo dilema de usar ou não o ar condicionado e seus afins; já que,
a crise econômica pede parcimônia com os gastos e a tarifa da energia elétrica
está pela hora da morte. Sem contar, que aquela velha lorota de que o
trabalhador saindo do serviço ainda com a luz do sol aproveita para se
divertir, tomar uma cervejinha, papear com os amigos antes de chegar em casa,
não resistiu ao único ajuste fiscal realizado até o momento, ou seja, o ajuste
do próprio cidadão.
Sem emprego, sem dinheiro no bolso, o lar é o que restou para a
maioria da população. Aí, dá-lhe banhos para aplacar o calor, a máquina de
lavar (ou o tanquinho) para dar jeito nas roupas suadas que se acumulam, o
computador ou a televisão ligada para ver até aonde vai os descaminhos do
país,… Não esquecendo daqueles que acordam de madrugada para trabalhar ou
entrar nas filas em busca de emprego e, por essa razão, vão iniciar a dinâmica
do dia rompendo a escuridão trazida por uma hora a mais no relógio, com luzes
acesas por todo lado.
É quase um sacrilégio que, com uma costa privilegiada como tem o
país, não se faça o bom e pleno uso da energia eólica e solar. Pelo menos é
isso que se esperaria daquele que se julga protagonista nos discursos
ambientais; mas, ele perde e se perde nas palavras. Brasil, o país tropical que
usa o recurso dos países temperados: Horário de Verão. Parece conversa de quem
ouve o galo cantar, mas não sabe aonde; e no fim, a irrisória economia
contabilizada será, mais uma vez, inexpressiva.
Foi só mais uma maneira de punir o cidadão seja no bolso ou na
saúde. Quantos não são os que padecem os desconfortos trazidos ao ritmo
biológico e, com o sistema de Saúde Pública como está, nem poderão buscar
auxílio? No fim, na hora de fazer economia, de cortar na própria carne, de
ajudar ao país, a ‘nobre tarefa’ é sempre do cidadão; aquele ser que madruga,
trabalha 40 ou mais horas semanais, recebe um salário minguado e não tem
direito a auxilio moradia, transporte, paletó ou outro ‘penduricalho’, enfrenta
condução lotada no seu ir e vir diário e, ainda, é obrigado por lei a eleger
seus representantes.
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ANTENA CULTURAL:
PARA LER E PENSAR:
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