Interações animais
por: Carlos Augusto Ferreira Galvão
Observamos, na natureza, várias
espécies animais que interagem com outras espécies numa associação que traz
vantagens aos dois. Não é raro vermos jacarés com as bocarras abertas, com
pequenas aves fazendo “higiene” de seus dentes; mesmo em nossos jardins podemos
ver “manadas” de pulgões sendo “pastoreadas” por formigas que os defendem e se
locupletam com as secreções ricas em glicose que estes pulgões eliminam.
No caso do homem se perde no tempo o
início de suas interações com outras espécies, sendo que o principal ícone
animal disto é o cão, que desde sempre foi a o animal alçado à condição de
“melhor amigo do homem”. Mas não se sabe exatamente se iniciou pela necessidade
de segurança ou para utilizá-lo em caçadas, mas sem dúvida que esta interação
também teve como causa uma grande dose de afetos entre as duas espécies. O cão
adaptou-se tanto à companhia do homem que adquiriu sentimentos que parecem
serem transmitidos de mãe para filho; um exemplo: Um filhote de cão, ainda
muito novo, já detecta vulnerabilidade em seu dono quando este está dormindo;
geralmente o animalzinho toma posição de alerta e mostra-se irritado quando
alguém, ainda que conhecido, se aproxima.
E o homem moderno tem aproveitado os
sentidos destes animais, que são muito mais eficazes que os do homem. Então
hoje vemos cães “especializados” em farejar explosivos, drogas ilícitas e,
conforme avança a ciência, vemos potenciais imensos no proveito destas
características animais. Um dos mais revolucionários e apaixonantes métodos de
diagnósticos que começam a surgir é aproveitar o faro destes animais para
diagnosticar cânceres urinários e digestivos; cães treinados conseguem
identificar estas doenças farejando fezes e urina, e detectando tumores muito
antes de aparecerem em nossos métodos “convencionais” (tomógrafos e
ressonâncias).
Os animais possuem sentidos que
também temos (audição, visão e olfato) porém muitas vezes mais eficazes; a
águia possui uma visão que só conseguimos com o uso de binóculos. O olfato, que
originalmente surgiu como um sentido sexual, faz com que alguns mamíferos
detectem uma fêmea disposta ao acasalamento à quilômetros de distância
farejando os feromônios, “cheiros” que a fêmea exala quando nesta condição.
Alguns peixes possuem sentidos que vão muito além da compreensão humana; eles
detectam um ser vivo apenas pelo campo magnético que todo organismo apresenta,
e mais outros sentidos que ainda estudamos mas não compreendemos porque
simplesmente não os temos.
Os chineses, na década de 70 do
século passado, foram os primeiros a preverem um terremoto e evacuarem grandes
cidades chinesas antes da catástrofe, após estudar o comportamento de cães e
gatos. Hoje se sabe o fundo científico deste fato; as placas tectônicas quando
começam a se mover, eliminam gazes ricos em íons que sobem à superfície e
muitos animais detectam estes gazes com até semanas de antecedência e, por
identificarem-no como perigo, fogem desesperados da região.
Ao desenvolver estudos sobre isso, o
homem ainda conseguirá evitar muitas das desgraças que provocam os terremotos.
A capacidade do homem de apresentar um sentimento tão complexo como o amor
facilitou esta interação entre os humanos e outras espécies. Com a difusão e
facilidade de gravar imagens, que nos favoreceu a tecnologia, não é raro vermos
seres humanos interagindo com animais inimagináveis. Parece que os animais
possuem também a capacidade de entender este sentimento. Um peixe dos mais
ferozes, a Moreia, não é um animal social, vive em tocas no fundo do mar e só
procuram indivíduos para acasalamento; Um impressionante vídeo que circula na
internet, mostra um mergulhador oferecendo peixes para uma moreia, que os
aceitava, e entre uma abocanhada e outra, recebia carícias do mergulhador e
parecia cariciá-lo, enrolando-se em seu pescoço, esfregando sua cabeça na face
do homem... numa cena que de tão idílica chega a emocionar.
Numa reserva africana, um aventureiro
conhecido passa a maior parte de seu tempo acompanhando uma família de leões
selvagens, que parecem não se incomodar com sua presença... Mais recentemente,
a humanidade conseguiu pela primeira vez comunicar-se de forma verbal com uma
espécie; uma garota surda muda, no final do século passado, ensinou a uma fêmea
de orangotango a única linguagem que conhecia: os sinais táteis pelas mãos. O
símio aprendeu, conseguiu conversar com esta garota, e num lance de marketing
chegou mesmo a frequentar salas de bate papo na web. Verificou-se que tal
animal tinha sentido da morte, e desenvolvia sentimentos bem complexos como a
inveja, por exemplo. Ainda temos muito que aprender com os animais e aproveitar
suas peculiaridades; mas, por enquanto, nos bastemos com a delícia de amar
nossos cães e nossos gatinhos.
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CARLOS AUGUSTO FERREIRA GALVÃO
Médico psiquiatra - São Paulo - SP
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