26 outubro 2015

Interações animais

Interações animais

por: Carlos Augusto Ferreira Galvão




Observamos, na natureza, várias espécies animais que interagem com outras espécies numa associação que traz vantagens aos dois. Não é raro vermos jacarés com as bocarras abertas, com pequenas aves fazendo “higiene” de seus dentes; mesmo em nossos jardins podemos ver “manadas” de pulgões sendo “pastoreadas” por formigas que os defendem e se locupletam com as secreções ricas em glicose que estes pulgões eliminam.

No caso do homem se perde no tempo o início de suas interações com outras espécies, sendo que o principal ícone animal disto é o cão, que desde sempre foi a o animal alçado à condição de “melhor amigo do homem”. Mas não se sabe exatamente se iniciou pela necessidade de segurança ou para utilizá-lo em caçadas, mas sem dúvida que esta interação também teve como causa uma grande dose de afetos entre as duas espécies. O cão adaptou-se tanto à companhia do homem que adquiriu sentimentos que parecem serem transmitidos de mãe para filho; um exemplo: Um filhote de cão, ainda muito novo, já detecta vulnerabilidade em seu dono quando este está dormindo; geralmente o animalzinho toma posição de alerta e mostra-se irritado quando alguém, ainda que conhecido, se aproxima.

E o homem moderno tem aproveitado os sentidos destes animais, que são muito mais eficazes que os do homem. Então hoje vemos cães “especializados” em farejar explosivos, drogas ilícitas e, conforme avança a ciência, vemos potenciais imensos no proveito destas características animais. Um dos mais revolucionários e apaixonantes métodos de diagnósticos que começam a surgir é aproveitar o faro destes animais para diagnosticar cânceres urinários e digestivos; cães treinados conseguem identificar estas doenças farejando fezes e urina, e detectando tumores muito antes de aparecerem em nossos métodos “convencionais” (tomógrafos e ressonâncias).

Os animais possuem sentidos que também temos (audição, visão e olfato) porém muitas vezes mais eficazes; a águia possui uma visão que só conseguimos com o uso de binóculos. O olfato, que originalmente surgiu como um sentido sexual, faz com que alguns mamíferos detectem uma fêmea disposta ao acasalamento à quilômetros de distância farejando os feromônios, “cheiros” que a fêmea exala quando nesta condição. Alguns peixes possuem sentidos que vão muito além da compreensão humana; eles detectam um ser vivo apenas pelo campo magnético que todo organismo apresenta, e mais outros sentidos que ainda estudamos mas não compreendemos porque simplesmente não os temos.

Os chineses, na década de 70 do século passado, foram os primeiros a preverem um terremoto e evacuarem grandes cidades chinesas antes da catástrofe, após estudar o comportamento de cães e gatos. Hoje se sabe o fundo científico deste fato; as placas tectônicas quando começam a se mover, eliminam gazes ricos em íons que sobem à superfície e muitos animais detectam estes gazes com até semanas de antecedência e, por identificarem-no como perigo, fogem desesperados da região.

Ao desenvolver estudos sobre isso, o homem ainda conseguirá evitar muitas das desgraças que provocam os terremotos. A capacidade do homem de apresentar um sentimento tão complexo como o amor facilitou esta interação entre os humanos e outras espécies. Com a difusão e facilidade de gravar imagens, que nos favoreceu a tecnologia, não é raro vermos seres humanos interagindo com animais inimagináveis. Parece que os animais possuem também a capacidade de entender este sentimento. Um peixe dos mais ferozes, a Moreia, não é um animal social, vive em tocas no fundo do mar e só procuram indivíduos para acasalamento; Um impressionante vídeo que circula na internet, mostra um mergulhador oferecendo peixes para uma moreia, que os aceitava, e entre uma abocanhada e outra, recebia carícias do mergulhador e parecia cariciá-lo, enrolando-se em seu pescoço, esfregando sua cabeça na face do homem... numa cena que de tão idílica chega a emocionar.

Numa reserva africana, um aventureiro conhecido passa a maior parte de seu tempo acompanhando uma família de leões selvagens, que parecem não se incomodar com sua presença... Mais recentemente, a humanidade conseguiu pela primeira vez comunicar-se de forma verbal com uma espécie; uma garota surda muda, no final do século passado, ensinou a uma fêmea de orangotango a única linguagem que conhecia: os sinais táteis pelas mãos. O símio aprendeu, conseguiu conversar com esta garota, e num lance de marketing chegou mesmo a frequentar salas de bate papo na web. Verificou-se que tal animal tinha sentido da morte, e desenvolvia sentimentos bem complexos como a inveja, por exemplo. Ainda temos muito que aprender com os animais e aproveitar suas peculiaridades; mas, por enquanto, nos bastemos com a delícia de amar nossos cães e nossos gatinhos.

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CARLOS AUGUSTO FERREIRA GALVÃO
Médico psiquiatra - São Paulo - SP


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