20 outubro 2014

A poesia através dos tempos

Por 
DALVA AGNE LYNCH
Poeta, Tradutora e Escritora
São Paulo - SP
lynchdalva@gmail.com








A POESIA ATRAVÉS DOS TEMPOS

Uma das coisas que separa a poesia da prosa é o ritmo, haja rimas ou não. A essência da poesia, como digo e repito, é a sua leitura - a música das palavras declamadas.

Nos tempos medievais, quando a maioria dos Senhores Feudais e seus súditos não sabia ler, os artistas eram uma classe essencial da sociedade, fossem eles músicos, poetas ou atores, ou tudo isso ao mesmo tempo. Assim, artistas iam de vilarejo em vilarejo apresentando peças musicadas ao povo, enquanto que os Bardos e suas equipes iam de castelo em castelo levando aos Senhores Feudais não apenas a música instrumental ou cantada, mas, e talvez principalmente, a pura declamação de poesias.

Mais tarde, quando os Feudos começaram a deixar de existir para dar lugar a Reinos mais extensos, os reis continuaram a patrocinar as Artes, e o teatro grego e romano foram desenterrados. Artistas como Shakespeare criaram novos dramas e novas comédias para entreter as cortes. Os atores, contudo, eram todos homens. Quando havia um papel feminino, como o de Julieta, um ator jovem e imberbe vestia-se de mulher para representá-lo.

Se você estudar os textos teatrais da época, assim como os gregos e os romanos, verá que eles eram todos escritos em forma de poema. Os diálogos não eram “falados”, mas recitados, ou seja, declamados dramaticamente.

Hoje em dia, ao produzirem uma peça de teatro dessas épocas, tanto o teatro quanto o cinema precisam fazer com que os textos sejam acessíveis ao grande público, então os atores e atrizes devem possuir um grande talento para transformar os textos poéticos em linguagem normal. Ser escalado para interpretar quaisquer personagens de uma peça grega, romana ou medieval pode elevar ou destruir um ator para sempre, e você pode confirmar isso ao examinar cuidadosamente a carreira daqueles que marcaram época em produções como Romeu e Julieta.

Hoje em dia, os roteiros de teatro, televisão e cinema obviamente deixaram de lado a esquecida arte do declamar. Com isso, a poesia também se transformou, deixando os palcos para permanecer entre as páginas pouco lidas de livros e antologias. O poeta, hoje, é um marginal. A menos que seus textos sejam colocados em música, a sua obra passa totalmente desapercebida pelo grande público.



CALÍOPE: A de bela voz, Musa da eloquência, da Poesia Épica ou Heroica. Significado do nome: “Formoso rosto”. Era a mais velha e mais distinta das nove Musas. Mãe de Orfeu e Linus com Apolo. Ela foi árbitro da disputa de Adônis entre Perséfone e Afrodite. Seus símbolos são um pergaminho, tábua de escrever e estilete.





Esse fato, contudo, não é novo. Tanto na época medieval quanto na grega e romana, a poesia do povo era a trova, não os grandes textos épicos. Estes eram exclusivamente para o deleite das cortes de reis e senhores feudais. Nos nossos dias, entretanto, até mesmo a trova deixou seu nicho de poesia popular para ingressar no rol das Finas Artes, se bem que, nos estados do Nordeste e do Rio Grande do Sul, ela ainda faça parte da cultura do povo.


Talvez você discorde do que digo, afirmando que nunca houve tantas pessoas interessadas em poesia. Afinal, há milhares de sites da internet cheios de textos românticos ou descritivos da natureza, corretamente intitulados “poesias”.



ERATO: Significado do nome: “Adorável”. A Musa da poesia lírica (elegia), particularmente a poesia amorosa ou erótica, e da mímica. Ela é representada usualmente com uma lira.





O problema, entretanto, é que a palavra “poesia” tem mais de um significado. Aqui neste texto, o que chamo de poesia exprime uma forma de expressão artística em que se empregam regras de estruturas sintáticas e de sons, de modo que a palavra é um instrumento não apenas da expressão de algo, mas também de uma forma - o poema.

O sentido mais conhecido, entretanto, e o que vemos hoje em dia na internet, é aquele em que poesia é sinônimo de sensibilidade e emoção, sem elos com formas e sons, e, infelizmente, na maioria dos casos, sem elos com a linguagem.

Devo dizer que estes dois sentidos são ambos válidos, porque refletem o que vem a ser a poesia em seu sentido mais amplo. Contudo, permanecem ainda duas realidades: a primeira, que a valorização de um texto poético como Arte depende inteiramente da grandiosidade ou mediocridade do autor. A segunda, que a poesia, como expressão das Finas Artes, foi irremediavelmente marginalizada.

Não importa a grandeza do poeta: sua obra ainda está destinada às mais escondidas e empoeiradas prateleiras das livrarias - se é que chega até lá -, e apenas uns poucos, muito poucos, conseguem qualquer espécie de popularidade - esta sempre ligada a outro fator, seja ele político, ambiental, financeiro ou social.




THÁLIA: Significado do nome: “Festividade”.É uma das Musas gregas, e ela preside a comédia e a poesia leve. Seus símbolos são a máscara cômica e um cajado de pastor.





Ou isto, ou o poeta, por ter algum cargo na mídia, ou por algum escândalo pessoal, ou por quaisquer outros contatos importantes que tenha, consiga chegar às páginas de jornais e revistas, ou, melhor ainda, aos shows de entrevistas das diversas emissoras de televisão.

Esta é, portanto, a situação da poesia no cenário nacional de hoje. Sim, temos muito talento pelo Brasil afora, tanto na poesia como instrumento de uma forma, quanto na poesia como pura expressão emotiva.

O que nos falta, infelizmente, é que a esquecida arte de poetar seja divulgada e apreciada pelo que realmente é: uma das mais belas das Finas Artes, e a verdadeira voz do espírito de uma época.

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