09 março 2015

Educação e cultura: falência orquestrada

Por 
HAROLDO PEREIRA BARBOZA
Analista de Sistemas
Rio de Janeiro - RJ
hpbflu10@gmail.com








EDUCAÇÃO E CULTURA: FALÊNCIA ORQUESTRADA

AS CRISES EM ANDAMENTO em relação à educação estão sempre na moda. Em vários momentos pipocam greves de professores prejudicando a sociedade e impedindo que ela tome consciência de como conduzir seus anseios. Escolas são interditadas por imposição de traficantes ou de goteiras. Divergências salariais que deveriam estar sendo resolvidas nas mesas das escolas, constantemente emperram na Justiça de forma premeditada para esfacelar o ânimo dos formadores de opiniões, com a nítida impressão de que foram programadas para causar um caos sem precedentes entre os jovens já sem grandes esperanças, mesmo quando portadores de seus diplomas. Na verdade, estas crises vieram de longe em dois sentidos: tanto no nível como no tempo. A prática da “ditadura sem valor” impera na maioria das entidades de orientação estudantis e as decisões são tomadas pelas administrações sem consultar alunos, pais, professores e funcionários de apoio.

Milhares de escolas básicas públicas que deveriam ser exibidas na tv no horário nobre estão literalmente caindo aos pedaços. Goteiras, janelas empenadas, vidros quebrados, instalações sanitárias entupidas, com risco de doenças, fios prontos para um curto circuito, tacos soltos, quadros pendurados com parafusos de menos, telhas com furos demais e outras dezenas de mazelas. Outros agravantes para torná-las inviáveis: filas desumanas das matrículas nas madrugadas frias, indicação de escolas longe das residências dos alunos, merenda de baixo nível - a verba é desviada antes de chegar às escolas -, falta de livros nas bibliotecas, quadros negros, verdes ou brancos, sem manutenção, falta de carteiras, com dois ou três alunos em cada, laboratórios cheios de baratas, traças e percevejos no lugar de camundongos. Corte nas verbas de cursos de aperfeiçoamento dos professores e claro, o congelamento de um salário imoral para quem tem o prazer de ensinar. Isto é o que ainda as mantém em funcionamento. E por falta de condições, verbas e material, não conseguem se aprimorar para dar aulas com uma qualidade mínima para se formar um cidadão preparado para viver em sociedade e com conhecimento adequado para lutar por oportunidades de trabalho decente, suprir as necessidades da família e defender a pátria contra as raposas internacionais que patrocinam esta degradação coletiva com a conivência das ratazanas que gerenciam nossa pátria para manterem volumosos os celeiros de mão de obra barata.


Mas estas mazelas não são exclusividade do nível básico. Visitem as instalações do Pedro II, da UFRJ ou da UERJ. O quadro de abandono é similar ou pior. E para garantir que o funcionamento seja inadequado mesmo que haja um sacrifício elevado de mestres, funcionários e alunos, reitores impopulares são colocados no comando (lembram do Vilhena?) para garantir que o ambiente de entusiasmo não evolua. Dentro da Biblioteca Nacional (RJ) existem mais rebocos caindo e ratos do que leitores! Neste cenário, não é de surpreender que nossos jovens se sintam desestimulados e os mais fracos de mente, afastados da religião e com família desestruturada, se tornem presas fáceis das drogas. 

Pensam que isto é o pior? Pois saibam que entidades de alto gabarito como IME, Agulhas Negras e outras, estão reduzindo a pressão sobre as matérias para que consigam formar turmas com mais de 10 alunos, para encobrir a falência total do sistema educacional. Elas também sofrem sabotagem para provocar a queda de qualidade de seus serviços. Por isto já não temos patriotas como os valorosos lutadores de 50 anos atrás. No lugar do hino que poucos ouvem nas escolas, estão aprendendo as letras que revelam que realmente estamos “dominados” por “cachorras popozudas” e “soldados dos bondes”. Nossos ídolos não são (já foram?) os valentes patriotas que no passado tombaram por uma pátria independente. Nossos jovens idolatram atletas botinudos, apresentadoras de programas de auditório  e artistas que exibem suas partes íntimas durante o jantar da família, mental e moralmente fragilizada, pois já não encontra sustentação na religião, denegrida por templos com fins lucrativos, prática elevada da pedofilia e silêncio de seus líderes conceituados que não encontram espaço adequado para esclarecer a população atônita. 


As escolas municipais, e provavelmente as estaduais também, “orientam” que as professoras aprovem seus alunos mesmo que a média anual seja abaixo de UM. Três motivos conduzem para esta prática: a) os traficantes ameaçam professores que reprovam parentes menores daqueles; b) o município perde verba federal por cada aluno reprovado; c) os alunos agora estão agredindo os professores sob o imundo manto da imunidade do “di menor”. 

Não fica difícil imaginar como anda a cultura em nossa pátria. Teatros abandonados, cinemas falidos, bibliotecas sendo devoradas por traças, museus com goteiras. Alguns valentes sítios de informática tentam criar um canal de sobrevivência das letras, assim como outras tantas entidades culturais patrocinam heroicamente concursos lite-rários, tendo em vista que não há incentivo de leitura de livros que representam armas peri-gosas que podem abrir mentes e formar opiniões contrárias ao regime que nos conduz. Todos estes veículos sobrevivem com água no queixo. Qualquer marola mais forte os afoga. Não há nenhuma linha de crédito que os beneficie. Quem se arrisca a patrocinar uma destas entidades chega a receber “gelo” dos demais integrantes da máfia do poder. Em paralelo despejam as palavras estrangeiras em todas as campanhas publicitárias, trazendo-nos mais dificuldades em absorver a linguagem nativa. Dificultam a comunicação entre nós para impedir que as ideias de uma cruzada buscando a verdadeira independência de nossa pátria possam ser costuradas entre os que não foram totalmente anestesiados pelos abutres que apenas desejam nos manter colônia por mais 500 anos. 



E para culminar, mantém latente o estado de pânico, desespero e desestímulo entre os componentes que sustentam a estrutura da disseminação do saber entre os alunos. Os salários congelados e ridículos traduzem o menosprezo que os dirigentes possuem pelo povo, mas não esquecem de legislar em causa própria, propondo 15o salário até para quem foi cassado por manipular o painel eletrônico do Senado. Com dois meses de antecedência - antes do início do ano letivo - não sentam para negociar com os professores e assim, criam as condições para que as greves prolongadas aconteçam no meio do processo já combalido. Mas o reajuste legislativo é aprovado em 15 minutos, durante a madrugada. 

Tal procedimento se faz necessário para que o processo de manter o povo na obscuridade continue em andamento para garantir mão-de-obra por remuneração baixa. As elites do poder não desejam correr o risco de um despertar cívico em massa, que causará a descoberta por parte da população, do quanto foi espoliada por dezenas de anos através de impostos desumanos sem aplicação honesta. Se ainda tivesse sido pelo bem do país, vá lá. Mas para sustentar mordomias de ratazanas permanentes dos gabinetes que não sabem sequer lavar um copo, é doloroso.

E o resultado desta política de abandono e menosprezo pelo povo, resulta na falta de oportunidade que nos conduz à miséria e à revolta por parte daqueles que percebem que estão sendo varridos para baixo do tapete junto com a lama dos escândalos que pipocam nas altas esferas dos governos e são engavetados cinicamente apesar do clamor público. Na verdade, empurrados para favelas inchadas que acabam servindo de ótimos esconderijos para os bandidos das armas de fogo. Os bandidos que portam canetas de ouro continuam instalados em entidades sociais bem refrigeradas, na posição de dirigentes de nossos destinos. 

Aos “alienados mentais” fabricados e sem oportunidades de crescerem dignamente como seres humanos são oferecidos programas de qualidade duvidosa, santuário popular da mediocridade onde o participante que elabora uma frase com cinco palavras é considerado “gênio”. Em paralelo, ocorre um processo sistemático de descaracterizar nosso linguajar, incorporando com grande força à nossa linguagem, termos estrangeiros que são “aportuguesados” nos grandes centros e tornam-se hieróglifos alguns quilômetros após a fronteira com o interior.  


Será que o que nos resta é abaixar a cabeça e permanecer colônia à espera de um messias de alguma história da carochinha? Mas nossos heróis não são Tiradentes, Dom João VI, Anita Garibaldi, Caxias, Oswaldo Aranha, Monteiro Lobato, Carlos Lacerda, Assis Chateaubriant nem Barbosa Lima Sobrinho. Hoje foram substituídos por personagens de histórias em quadrinhos ou antiheróis de baixo quilate. Em comum, suas mensagens subliminares de hipnose do povo que já não sabe mais identificar sua cidadania e dignidade e fica “agradecido” quando há alguma promoção no kit de sanduíches de alguma lanchonete multinacional. 

Afinal de contas, quando nossas crianças terão direito de estudar e brincar usando nossos valores e nossas culturas tradicionais? Por quanto tempo mais teremos de gerar crianças famintas para garantir o estoque de escravos dos níqueis? Como elas poderão crescer sem medo depois de ouvirem canções de ninar cujas letras são negativas? Assustam canções como o “Boi da cara preta”, ameaçam “Marcha soldado”, acusam “A canoa virou”, desgraçam “O cravo e a rosa”... Certamente tendem a chegar ao mercado de trabalho com receio de competir, questionar ou protestar para defender suas convicções! Quando pedagogos de gabarito terão suas sugestões analisadas pelo Ministério da Educação para a normatização de uma política que eduque e forme cidadãos conscientes de suas escolhas? Quando os alunos voltarão a respeitar seus Mestres? 


A mudança da presidência em 2002 nos deu a impressão que poderíamos iniciar a longa caminhada em direção à dignidade. Não estávamos esperando mágicas para consertar em quatro anos o que foi arrebentado durante cinco séculos, com mais força nos últimos 30 anos. Apenas ficamos na expectativa de que a embarcação mudasse de rumo pelo menos uns 30 graus. Mas infelizmente a máfia do poder segue o trajeto para nos manter como eterna colônia e o povo cada vez menos afortunado se distancia da qualidade mínima de vida, que arranha de maneira profunda a dignidade e a soberania de nossa pátria. E culmina (será que ainda ocorrerão fatos piores?) com a lama proveniente da represa de esterco que está prestes a desabar, contribuindo para uma indesejável, mas inevitável, convulsão social que se aproxima e que certamente vitimará diversos inocentes. E a indiferença das autoridades com o destino do povo se reflete na atitude de parlamentares medíocres que, debochando dos eleitores, executam, por exemplo, a dança da pizza para comemorar a “inocência” de mais um dos tais  picaretas no escândalo do “mensalão”. 



O espírito de cidadania latente em cada coração encontra-se amordaçado em grande parte da população que foi doutrinada pela mídia viciada a comportar-se como mero zumbi pagador de impostos e consumidor de supérfluos. Trabalhamos quatro meses apenas para atender à carga tributária!  A luz de libertação de nossa dignidade que procuramos há décadas, deve estar dentro de alguma cova, tendo em vista que o túnel já desmoronou há bastante tempo. A hipocrisia da sociedade que a tudo assiste sem esboçar reação, certamente está nos garantindo a condição de colônia por mais cinco séculos. Em pesquisa de qualidade de ensino realizada no mundo do final de 2005 entre 142 países, o Brasil figurou na 126ª posição em índice de repetência, mesmo com as aprovações por decreto. Camboja e Haiti estão melhores que nós. 

Talvez seja o caso de efetuarmos uma permuta justa: mandamos tropas de competentes militares para o Haiti. Em troca, devemos receber uma comissão de docentes para mostrar-nos um sistema de ensino mais adequado para quem pretende evoluir como nação, através das ações de administradores comprometidos com as causas sociais que elevem nossa qualidade de vida. 
Nossa caminhada na trilha da democracia está comprometida pelo padrão de dirigentes corruptos que poluem nosso cenário impunemente com a nossa conivência, realçada pela passividade com que aceitamos as artimanhas montadas de forma que possam perdurar no comando pelo maior tempo possível. Algo que ficou mais fácil com o advento das urnas eletrônicas “confiáveis”. Se, mesmo depois de aposentado eu ainda devo conseguir criar atalhos em programas que só serão descobertos uns dois meses após o pleito, imaginem do que é capaz um rapaz entre 15 e 20 anos que passa oito horas por dia em frente ao teclado. 

E nossas últimas esperanças de reverter o rumo da nau Brasil estão precisando ser costuradas, pois estão esgarçadas pelo abandono por parte de nossas entidades cívicas responsáveis por mantê-las sempre em expansão. O silêncio impera entre os chefes militares que assistem à degradação moral de nossos símbolos sob a estátua de valorosos patriotas que tombaram pela tentativa de nos libertar. A mordaça também cala as vozes de literatos acadêmicos, advogados de primeiro nível, chefes religiosos influentes e líderes sindicais que assistem o rebanho sendo dizimado de dentro para fora para servir de alimento para os abutres internacionais. E assim, através da ignorância alimentada pela censura do conhecimento básico, continua proliferando o preconceito, principalmente através do salário e falta de oportunidade que marginaliza pessoas de peles escuras, deficientes físicos, mulheres que engravidam e são afastadas do emprego, optantes por religiões diversas, idosos que cuidaram de nossa infância e crianças que andam descalças e não recebem apoio para enveredar pela estrada da oportunidade. Tudo isto agravado pela baixa compreensão de cidadania, traduzida pelos pequenos atos de nossos desleixos, que somados, trazem enormes prejuízos de desperdício, reposição e manutenção em todas as áreas de nossa sociedade doente e que ninguém tem coragem de diagnosticar e aplicar os remédios adequados. Mesmo que amargos. Quando o povo terá visão para buscar conhecimentos para contabilizar, fiscalizar, denunciar e controlar a ânsia dos devoradores de nossa dignidade? 


Desta forma nossa pátria vai sendo esfacelada lentamente (não tão lentamente assim!). Degradação paulatina das vias de educacionais, escoamento ilícito de nossas riquezas para as nações exploradoras, redução da qualidade de vida dos nativos dóceis e sem garra para defender nossa dignidade.

Se um dia for estabelecido que filhos e netos de parlamentares de qualquer esfera tenham de estudar em escolas públicas, certamente este segmento deve melhorar pelo menos 80% em cinco anos. No entanto, tal mudança não deve ser implementada pois eles próprios conhecem sua incompetência para administrar a área pública. Suas cabeças apenas se limitam a montar “esquemas” para subtrair divisas dos cofres públicos enquanto o povo paspalho perde tempo e dinheiro telefonando para salvar uma desnuda do paredão de algum reality show... 

Quando o corpo cambaleante começa a exibir sintomas de putrefação, com certeza a alma já foi corroída pela ausência da fé religiosa e pela falta de ânimo para lutar por adequadas oportunidades para criar condições por uma vida de melhor qualidade para si e para seus herdeiros. 

No Nordeste escolas estão sendo fechadas por falta de alunos, pois crianças estão sendo colocadas em atividades profissionais com menor remuneração enquanto seus pais ficam nas redes aguardando as bolsas demagógicas. Em outras regiões escolas fecham por falta de professores pois a profissão não atrai “sofredores” com os salários indignos oferecidos e falta de apoio corrompido pelo estatuto do menor. 

Com o advento de Smartphones que resolvem até equações, é fácil prever que estes ajudarão as próximas gerações de zumbis a se tornarem habilidosos “aperta-dores de teclas” de fúteis trocas de mensagens que consa-gram a imbecilidade que perpetua os ratos do poder.


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Um comentário:

Galvão Neto disse...

Ate´concordo com a indignação do discurso do Haroldo Barbosa, entretanto, exatamente pelo excesso de paixão, a mim parece que ele se perdeu um pouco, deixando de separar o que é obrigação do Município, do Estado e do Governo Federal e principalmente, não trouxe à luz os maiores culpados por este estado de coisas, QUE SOMOS NÓS MESMOS !
Se tudo está como está é porque não estamos ligando para a questão.
Onde estão os pais desses alunos que, além de não lhes transmitirem a educação básica em casa, também não se organizam e não fazem uma MANIFESTAÇÂO, como está em moda atualmente?
Ou tudo vai se resolver com o "Fora Dilma?".
Me perdoe, mas é muita hipocrisia criticar e nada fazer EFETIVAMENTE em favor de qualquer causa que seja !

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