27 março 2015

O Super Homem de Alan Moore

Por 
GUSTAVO BARBOSA ROSSATO
Escritor e Servidor público
Jundiaí - SP
gustavobarbosarossato@gmail.com









O SUPER HOMEM DE ALAN MOORE
“Vede, eu os anuncio o super-homem, Ele é esse raio, ele é esse brilho”

Com Nietzsche começa a história do herói britânico Miracleman escrito por Alan Moore. Ao anunciar a palavra “Kimota”, ele se transforma de um homem comum em um semideus poderoso. Mas engana-se aquele que lerá uma história com uma premissa tão simples. Como o próprio autor disse em um documentário sobre sua carreira (The Mindscpe of Alan Moore, 2005), seus quadrinhos não são feitos apenas para entretenimento. Sua intenção é fazer a consciência do leitor sofrer algum tipo de transformação. 

O personagem é abertamente copiado no Capitão Marvel, o garoto que quando pronuncia a palavra SHAZAM, torna-se no herói com o queixo largo e roupão vermelho. Nos anos 50 em um mundo colorido pós-guerra e o mercado promissor de quadrinhos, a Inglaterra produziu sua versão do herói a qual foi chamada de Marvelman. Com a queda das vendas e muitos problemas judiciais envolvendo plágio, o título foi cancelado e tão logo esquecido. 

Alan Moore

Em meados dos anos 80, surge uma nova geração de quadrinistas. Muitos deles influenciados pela contracultura, começaram a explorar seus gibis com rock´n roll, revolução sexual, literatura beat e perceberam na arte sequencial um modo de explorar potenciais mais artísticos. Os quadrinhos começaram a receber críticas elogiosas não só das revistas especializadas, mas em jornais e revistas de grande circulação. Entre os artistas de quadrinhos mais importantes dessa época, Alan Moore e Frank Miller despontam como os grandes nomes. 

No começo da sua carreira, antes de ser contratado pela poderosa DC Comics, Alan Moore participava de um selo independente chamado 2000 AD, contribuindo com histórias como V de Vingança e a nova versão do herói britânico dos anos 50/60 rebatizado de Miracleman. Mudar o nome do título foi uma maneira de conseguir driblar os inúmeros processos. 


Na nova fase, o escritor britânico explora o impacto psicossocial em conviver com um indivíduo realmente super, visão esta explorada de maneira mais política em Watchmen, obra-prima do autor e considerada pela revista Times entre as 100 obras mais importantes do século 20 (um feito e tanto para uma história em quadrinhos). Em Watchmen a histeria coletiva e a paranoia da guerra fria estavam em ponto de ebulição. Já o enredo de Miracleman se aprofunda em um tom mais existencial. Algo na qual se aproxima muito da série Monstro do Pantâno, também revisitado pelo autor britânico na mesma década. Ambos os personagens abandonam a sua humanidade e abraçam a potência material do alter ego. Um desenvolve sua natureza Elemental, já o herói Miracleman torna-se uma versão contemporânea de um deus grego. 

A história marcou muito os fãs de quadrinhos, tanto a fase escrita por Moore quanto pelo seu amigo Neil Gaiman. Porém o título entrou em uma espécie de maldição com a chegada dos anos 90. Miracleman fazia parte de um selo independente que mais tarde foi comprado pelo artista americano Todd Mcfarlane (Spawn) e o que seria um acordo entre cavalheiros, tornou-se uma guerra homérica de direitos de publicação. Foi nessa época que Neil Gaiman proibiu Mcfarlane de usar Ângela (personagem criada pelo inglês) nas histórias do Spawn. 


O fato é que agora a editora Marvel tornou-se detentora dos direitos de publicação. Já é possível encontrar nas bancas do Brasil os primeiros números em edições com papel de boa qualidade e em formato americano. Fãs antigos serão recompensados pela longa espera e os novos leitores terão a oportunidade de conhecer Alan Moore no início de sua carreira, já antevendo heróis demasiadamente humanos. 
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Um comentário:

Ede Galileu disse...

A espera foi longa mas valeu à pena...

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