27 março 2015

Pequenas delícias de uma breve viagem ao Chile

Por 
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA
Engenheiro     
Santo André - SP
carlos@sabbahi.com.br








PEQUENAS DELÍCIAS DE UMA BREVE VIAGEM AO CHILE

Salut les amis!

Em outubro de 2013 fizemos - eu, minha mulher e as crianças - um belo passeio pelo Chile. Por causa dos nossos filhos, um deles com menos de um ano, ficamos apenas pelas cercanias de Santiago, mas essa restrição não impediu de conhecermos ótimos lugares na capital e no Vale do Maipo. Foi uma viagem curta, aproveitando o feriado prolongado aqui de São Paulo, mas foi fascinante.

Ficamos hospedados na Providencia - na verdade a “cidade” de Santiago é formada de diversas comunas, que são tipo megabairros, com administração independente. Escolhemos o simpático Hotel Le Rêve, localizado na Orrego Luco, uma travessa da Av. Providencia, importante centro comercial da capital, próximo de ótimos restaurantes, das grandes lojas de departamento e do Costanera Center (um imenso centro comercial que comporta além de um shopping center o mais alto edifício da América Latina, com cerca de 300 metros de altura). O local da hospedagem foi mesmo uma escolha felicíssima.

Nosso primeiro almoço foi no restaurante Baco, localizado em outra travessa da Av. Providencia. Com inúmeras opções de vinho em taça e ótima variedade de pratos, o rancho foi excelente. Para começo de conversa, pedimos um Casa Lapostolle Cuvée Alexandre chardonnay 2007 e um Orzada carignan da Odfjell 2010. De entrada, terrine de foie gras, acompanhado dos ótimos pãezinhos que os restaurantes chilenos quase sempre preparam na casa e levam à mesa ainda quentinhos e crocantes. O chardonnay é do tipo pesadão, criado em barrica, super dourado e encorpado com aromas doces de frutas tropicais em compota e mel, na boca é gordo e lembra muito abacaxi em calda - gosto de Epocler! Achei desiquilibrado, mas há quem goste deste estilo. Por outro lado, o carignan da Odfjell é bem fresco e suculento, com um misto de frutas vermelhas e negras frescas, muito gostoso.



A Alessandra pediu um prato de camarões e continuou no chardonnay, enquanto eu fui no bouefbourguignon e pedi um Ventisquero Pangea 2008 para acompanhar. Escolha muito feliz, pois o prato veio apimentadinho (depois percebi que é normal por ali o uso de umas pimentas bem saborosas) e harmonizou perfeitamente com este vinho proveniente de Apalta que entrega tudo o que a cepa tem de bom. Púrpura, denso, frutado e especiado, com gostosas notas de chocolate e pimenta. Madeira e álcool muito bem integrados, redondo e gastronômico. Um almoço de muito boas-vindas ao Chile!

Nesse primeiro dia, ainda passeamos pelo Costanera Center, e após uma volta ao hotel para recarregar as baterias jantamos no Le Flaubert, um simpático bistrozinho perto do hotel. Comi ceviche de camarões com um chardonnay Santa Ema (não podiam faltar os nomes de santa...). Simplesinho, baratinho e gostosinho. Fresco, com aromas de frutas cítricas e tropicais e ótima acidez, caiu muito bem com o ceviche e com o arroz de lula e saint-jacques que comi depois. A Alessandra mandou um ótimo coq au vin e de sobremesa um crepe suzette. O único problema do restaurante é que era pequenininho demais para uma família barulhenta como a nossa, com um bebê de dez meses num carrinho... mas justamente por ter poucos clientes a comida vem muito rápido, então com crianças, isso é um grande ponto positivo!

No dia seguinte fizemos um city tour pela capital, conhecendo locais como Paris-Londres (a vila com grandes casarões de influência europeia), o Joquey Club, o centro histórico, a Plaza de Armas, a catedral, o palácio presidencial de La Moneda e o mercado municipal, que é um arremedo em comparação com o mercadão de São Paulo. De interessante ali os mais variados tipos de frutos-do-mar e os restaurantes desta especialidade com as gigantescas centollas expostas nas vitrines, junto com camisas de clubes de futebol. Por último conhecemos o Cerro Santa Lucía, um morro no meio da capital, antigo forte espanhol e que hoje é uma bela área verde. Chamou-nos atenção, aliás, o belo paisagismo e a arborização da cidade, que tem a finalidade de combater um pouco a baixa umidade e a concentração da poluição causadas pela proximidade da Cordilheira.



Almoçamos no Giratorio, um restaurante giratório mesmo com uma bela vista panorâmica da cidade de Santiago, com os Andes, o Cerro São Cristóbal  e a comuna da Providencia emoldurando a paisagem. A comida também era muito boa, mas de novo senti a dificuldade de pedir um bom branco para acompanhar um polvo grelhado. Estes restaurantes mais tradicionais sempre têm ótimos tintos na carta, mas não brancos... Acabei pedindo um San Pedro Castillo di Molina chardonnay (com nome de santo homem eu ainda não conhecia nenhum), que acabou se mostrando muito leve para o prato, que também continha pimentões, azeite e o tradicional mix de pimentas.

À noite fomos ao Parque Arauco, um mega shopping center muito bem instalado, com um mix enorme de lojas, inclusive de grifes sofisticadas e restaurantes em uma bela área aberta, tipo boulevard. Jantamos em um restaurante de rede, novamente bons pratos puxadinhos nas pimentas.

No dia seguinte, acordamos bem cedo para fazer um tour por algumas vinícolas no Vale do Maipo (leia no blog sobre nossas visitas à De Martino, Concha y Toro e Almaviva) e à noite fizemos nossa última refeição no Chile, em um ótimo bistrô chamado Del Cocinero, cujo proprietário e chef, muito simpático por sinal, é um ex-executivo que trabalhou durante muito tempo no Rio de Janeiro, por isso fala um português muito bom. A filhota comeu uma omelete de camarões deliciosa, minha mulher foi num prato de vieiras à la crème e eu mandei um ceviche de salmão com alcachofras e depois um ótimo spaghetti com frutos-do-mar, tudo acompanhado por um simples mas gostoso chardonnay Santa Ema, bem fresco e frutado.

Voltamos para o Brasil com a melhor impressão possível deste país de lindas paisagens e povo simpático e civilizado. No caminho para o aeroporto, cruzamos com a comitiva presidencial; o motorista do táxi nos alertou: um Honda Civic escoltado por dois batedores em motocicletas. “Aqui não é como no Brasil”, disse ele. “Os políticos aqui existem para servir ao Chile e seu povo, e não a si próprios, como ocorre no seu país. Estamos acompanhando pelos jornais o que está acontecendo lá, tomara que dê resultado para vocês” - disse sobre as manifestações de junho, apontando um jornal no bolso lateral da porta do carro: uma edição do Financial Times. Em inglês. 
Meditemos.

Santè!
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