Minha menina é admirável. Tenho nela o prêmio de sabê-la menos a garota que fui e mais a que queria ter sido.
Volta e meia às voltas com envoltas
questões relativas à amizade, traz ares de conciliadora. Crê no diálogo como dissolução
de mazelas.
Não sei de onde tirou essa ideia!!!
Brincadeiras à parte, outro dia eu fiz a
ela o lendário discurso: a amizade é um “tipo” de amor.
– “Tipo” assim bem ciumento, né, mãe?!
Alguém discorda?
Tenho por história minha pra contar que cresci
com uma amiga que gostava de falar: “nas brincadeiras é que se diz as maiores
verdades.”.
É bem verdade que, agora, a essa
altura da vida, eu lhe pediria que conceituasse “verdade”...
Todo mundo tem amigos. Não entrando
igualmente no conceito de “amizade”, o que estou tentando dizer, tomo-o
emprestado de Mario Quintana: “Não te abras com teu amigo/ Que ele um outro
amigo tem/ E o amigo do teu amigo/ Possui amigos também”.
Após podas e colheitas, umas tão
frutíferas quanto as outras, penso que os amigos não o são nem se fazem por
merecer pelo tanto de verdade que nos digam.
Poder-se-ia dizer aqui que o importante,
na verdade, sobre a verdade, é a verdade em que ela se funda... ou no quanto de
prática a bela teoria em que ela se funda venha a existir. Mas, não estou aqui
para, por minha vez, fundar meu discurso em pseudomoralismos.
Amigos simplesmente acontecem.
Desperdiça-se demasiado e raro tempo – que não voltará – tentando explicar o
verdadeiramente inexplicável.
No meu íntimo, sei que quando falo a
esse respeito são duas ou três pessoas que me surgem à mente.
Se, por um lado, isso soa um tanto
quanto solitário, por outro, a mim particularmente, comprova “tipo” que meio
que entendi o significado da “coisa”. Meio.
E tudo bem que “meio não é inteiro”,
como “noventa e nove não é cem”, do jeito que ouço, brincando, dizerem por aí.
Tudo bem, afinal, já é um baita começo!
Da mesma forma que “uma coisa é uma
coisa; outra coisa é outra coisa”, do jeitinho que meu
irmão, brincando, gosta de sempre dizer. Tudo bem – de verdade – pois, realmente:
embora uma coisa se transforme, ainda que siga sendo uma coisa, será outra
coisa, pois, será a coisa outra transformada! Simples assim.
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br /
www.valquiriamalagoli.com.br
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