Por
Francisco José Soares Torres
Médico - Crateús - CE
"Para consolo geral, todo moço, de hoje ou de ontem, é
sempre um velho em potencial". Foi assim que nos denominou a todos, tanto
moços como velhos - se tivéssemos a ventura ou mesmo a desventura de
sobrevivermos - aquele para sempre torturado poeta, ainda na pele do jovem
Alberto Caeiro ou já no couro do velho Fernando Pessoa, ao lembrar que ninguém
escapa ao envelhecimento e à morte, bem como no dizer do antigo grego de Os
Trabalhos e os Dias: "nenhum homem pode furtar-se à lei do trabalho, assim
como nenhuma raça pode evitar a lei justiça", assim como ninguém também
pôde até hoje reproduzir as proezas amorosas do lendário Dr Fausto impunemente,
pois até ele perdera, para sempre, a própria alma vendendo-a ao Demônio, e nem
mesmo o autor, o anoso Goethe conseguiu ser amado como pretendia pela jovem
Ulrik de dezoito anos, permitindo-nos concordar com o amargurado poeta lusitano
em que, afinal, não passamos, em qualquer instância, de meros "cadáveres
adiados".
Depois de largo prazo ultramarino o maranhense de São Luis,
Aluísio Azevedo antecipara na obra O Cortiço como viriam a se tornar as
relações de vizinhança das grandes metrópoles mundiais denunciando os tipos de
moradia nos edifícios de habitação coletiva de baixo padrão dos dias de hoje,
as convivências sociais claramente neutras ou, pior ainda, fortemente hostis e
adversas ao bom convívio social encontradas nesses aglomerados urbanos onde,
principalmente os idosos, são literalmente "descartados" do convívio,
ao contrário do que, com certeza, ocorria em algumas remotas civilizações
orientais onde as condições de vida em geral não favoreciam a longevidade, como
entre os chineses e os hebreus por exemplo, e nessas pequenas e isoladas
populações os velhos ocupavam posição de destaque dentro das famílias sendo
tratados por todos com veneração e respeito.
Mas o que poderia ter deslocado o eixo da questão
"desalavancando" a gangorra, desde a Antiguidade onde a expectativa
de vida não ultrapassava os dezoito anos, passando pela Idade Média e
Renascença para atingir os vinte e cinco anos de esperança de vida, até a
Modernidade a ponto de Carlos V ser conhecido como "o velho sábio"
com apenas quarenta e dois anos de idade e chegar ao século XIX com a
estimativa de vida dando uma guinada ascendente, época em que já se contava com
cerca de 12% de sexagenários para finalmente, no século XX alguns países a
partir dos anos sessenta, liderarem o "ranking" mundial de
octogenários"?
O grande avanço nas melhorias das condições de existência da
humanidade especialmente devido aos progressos da medicina do século XXI
permitiu a eclosão do chamado "milagre da ancianidade" podendo já se
profetizar o porvir de um mundo povoado por "macróbios" o que nos
levaria inevitavelmente a assistir um estranho espetáculo se não surgissem
verdadeiras revoluções estéticas de gosto exótico nas futuras gerações no
tocante à aceitação sem repulsa, por parte dos jovens, em relação à população
vegetativa, evitando que dentro de um tempo não muito longevo o envelhecimento
dos habitantes da Terra levasse ao desaparecimento gradativo dessa população
até a lenta, porem inexorável extinção de velhos no planeta.
Antes que isso pudesse acontecer, essa população de desvalidos
dos meios de garantia da própria subsistência faria parte de um grupo
abandonado e desamparado, condenado a passar os últimos anos de sua vida em
estado de completa miséria e perfeita solidão, pois já se iniciam as longas e
custosas viagens espaciais, quando o homem tentará ocupar outro planeta em
qualquer recanto do sistema solar ou outro canto ignorado do espaço sideral
onde constituirá uma "nova humanidade" e aqui deixará, para
apodrecer, se lhe aprouver e sem hesitações, as gemas estragadas postas por sua
galinha dos ovos "goros", balizando-se em novíssimos preceitos de
coexistência social para a preservação do Novo Homem no Cosmo, ou possa ser que
simplesmente esses supercivilizados homens do futuro recomessem, imitando
antigos nativos das Ilhas Fiji, a comer os velhos, em suas longas viagens pelo
espaço.
Mas que importa viver algumas centenas de anos com o corpo
carcomido e devastado por fadigas e desgastes, se não se puder protrair e
dilatar a juventude, ao invés de simplesmente prolongar a longevidade? O mais
provável é que a Terra dos Velhos venha a ser povoada e governada por uma "gerontocracia"
retrógrada e resistente à tecnologia do futuro, presa aos preconceitos do
passado, e que o seu planeta, envenenado por gases tóxicos, acabe por se
transformar em uma rocha inerte, um astro sem vida, um planeta morto girando
eternamente no espaço frio do universo, asfixiado por derivados do carbono
exalados de suas velhas e poluentes fábricas, definitivamente esmagado pela
incapacidade de governo de sue líderes políticos, pondo em poderosa dúvida os
modelos de longevidade antigos da sábia sabedoria dos profetas do Velho
Testamento, três dos quais viveram respectivamente cento e vinte, cento e
trinta e sete e cento e setenta e cinco anos!
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Francisco José Soares Torres
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