VALQUIRIA GESQUI MALAGOLI
Escritora e artista plástica
Jundiaí - SP
vmalagoli@uol.com.br
RECORRÊNCIAS RECORRENTES
“Quando nasci, já tinham sido inventadas todas as palavras que podiam salvar o mundo.
Só faltava salvá-lo.”
Almada Negreiros - (1893-1970)
A ideia – sempre – é escrever algo novo. Mas, tão vero quanto “quem ama o feio bonito lhe parece”, dá-se toda vez que nos dispomos, nós, os poetas, a dizê-la: a novidade. Dá-se algo meio contraditório, algo um tanto quanto inexplicável, e, algo a que não explicamos, sobretudo porque disso não temos o domínio... algo mais ou menos assim... por assim (tentar) dizer. Nós, por conseguinte, os poetas, supostos artífices, pretensos mestres, estamos mais (no mínimo) para os ossos no ofício dela, a Palavra. Dela, que faz de nós o que bem quiser. E que, por sorte nossa, nos quer bem.
Reparem que, invariavelmente, as cinzelamos, as novas, sob lustrosas roupagens, palavras outras, chovendo, entretanto, isso sim, no molhado! E aqueles que depõem contra mim, repetir-se-ão entre argumentos – pra variar também –, protestando: ora, que absurdo; não é nada disso, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, e blá-blá-blá...
Lutem, pois a luta é o mote da vida, da mesma maneira que o mote é a vida da Poesia. Lutem, debatam entre si, haja vista no que me diz respeito não adiante mais querer convencer-me do contrário, ou seja, de algo que não seja exatamente isso: a dita-cuja coisa é a mesma coisa cuja--dita.
da janela lateral do quarto de dormir (monotipia)
Os motivos persistem. Nós é que não vamos sendo os mesmos. Cinzas, verdes, vermelhos, azuis, lilases, pretos, brancos, amarelos, furtas... as cores continuam ali. Nós, todavia, passamos. Indubitavelmente todas as coisas sofrem ações, transformações... apresentam-se alteradas, mais fortes ou tênues.
Porém, será mesmo que o olhá-las, não será – este sim – ao invés de quaisquer mudanças que em si ocorram, o que de fato concorre para a pluralidade das formas de, por sua vez, serem tais ocorrências traduzidas? É como sinto quando suponho traduzi-las agora. Sabendo-a jamais uma tradução ao pé da letra.
O que não garante sentir ou pensar o mesmo amanhã. Nem daqui a pouco. E lá virei eu. De novo aqui (e acolá) para dizê-lo. Não para dizê-lo igualmente, embora, diverso o mesmo diga.
Permanece o Tempo. Variamos entre sólidos propósitos e líquidas incertezas. Bem (ou mal) assim somos: seres de impalpáveis naturezas, de essências inconstantes, imateriais por suposto. Elásticos apesar e talvez por causa de tudo.
Aonde quer que cheguemos... tornaremos à raiz: essa busca tão inútil, tão estúpida quanto nobre, sabe-se lá de quê ou por qual razão. Uns tornados talvez sejamos. Ou simplesmente uns tontos. Menos um fenômeno e mais uma casualidade. Ou não.
Seja, entanto, como seja... não é de todo ruim sê-lo. Não é de todo mal não sabê-lo exatamente, outrossim. Soubéssemos mais, não estaríamos aqui a divagar. Soubéssemos menos, não elucubraríamos sequer. Soubéssemos aquilo, talvez não saberíamos isto e vice-versa. Tivéssemos o fogo absoluto do conhecimento, quem sabe, não nos juntaríamos em torno dessa metafórica fogueirinha de papel alimentada não por um moto-contínuo, mas, antes – e sempre – pelo mote-perpétuo.
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